Seleção de talentos é filtrar jogadores com base na habilidade atual visando vencer competições no curto prazo, identificação de talentos por sua vez é a previsão da performance do atleta no futuro e leva em conta avaliações físicas, técnicas, táticas e psicológicas. Seleção de Talentos é bastante simples; Identificação de Talentos é uma arte.
Nossa cultura de “ganhar a qualquer custo” promove Seleção de Talentos. Quando treinadores são pressionados por vitória desde a base, seja pelos pais ou pelos clubes, eles se tornam selecionadores queiram ou não. É raro, em um futebol cada vez mais estatístico e de resultado, treinadores encontrarem clubes que consigam manter uma cultura que promova identificação de talentos. Fato é que em geral esse modelo, somado ao viés da idade, acaba naturalmente promovendo atletas mais rápidos e fortes, a superioridade física muitas vezes pode mascarar deficiências técnicas.
O resultado é a carência de jogadores técnicos no profissional. Não estamos vivendo uma entressafra de craques, estamos assistindo ao esgotamento de um sistema que sempre se beneficiou dos craques formados na rua como era até anos atrás. No entanto o cenário mudou, hoje além da falta de locais para prática, principalmente nos grandes centros urbanos, o futebol concorre com a ascenção de diversos outros esportes.
Podemos apontar algumas alternativas para solucionar esse problema. Tendo em vista os grandes clubes brasileiros, seria mais eficaz investir em elencos mais numerosos. Mesmo que possa parecer um investimento financeiro maior, existe um grande número de jogadores descartados com potêncial e motivação para superar barreiras financeiras. Sendo assim os clubes poderiam distribuir melhor os recursos para viabilizar a manutenção de elencos “extra” por categoria, o financiamento desses grupos devem ser viabilizados com os recursos dos próprios atletas, uma espécie de mensalidade, apoiados ao suporte que grandes clubes obtém de seus torcedores.
É óbvio que os grandes talentos exigem um tratamento financeiro diferente, isso não é possível mudar, mas é possível que elencos novos sejam viabilizados com financiamento direto dos interessados em ter uma chance em grandes clubes do futebol brasileiro. É só ver o aumento no número de escolinhas licenciadas. No entanto, apenas aumentar o número de atletas não resolve se não houver integração entre as equipes para nivelamento, seja através de campeonatos internos ou treinamentos. Isso pode ser benéfico também no sentido de tirar a “mascára” dos garotos da base. Aumentando o número de atletas, a concorrência também sobe, e o nível de renda tende a ser distribuído.
Mais do que selecionar grandes craques para trazerem grandes resultados, os clubes poderiam usar sua influência e contribuir positivamente na formação dos jovens através do esporte. O que vocês acham?