Empresários da Europa de olho, Jogadores da seleção Sub-20 tenta se proteger contra assédio

7 de fevereiro de 2015
Marcos Antônio da Silva estava acompanhando a primeira fase do Sul-Americano sub-20 em Maldonado, em meados de janeiro, base da seleção brasileira na ocasião. Entretanto, encurtou a viagem e voltou ao Brasil antes do hexagonal final. O motivo? O número de empresários e olheiros o procurando, interessados em seu filho, o meia Gerson, um dos destaques do Brasil na competição. 
– Eu fui embora. No meu hotel não parava de vir gente. Quando acabasse a primeira fase eu iria para Montevidéu, mas cancelei tudo, porque todos queriam falar comigo. Mas não têm que vir a mim, têm que ir no clube. Eu sou só o pai do Gerson. O contrato do Gerson não é com o pai, é com o Fluminense – contou Marcão, como é conhecido. 
Gerson foi um dos jogadores brasileiros observados no Sul-Americano. Olheiro do Juventus, Javier Ribalta veio para analisar o meio-campista de 17 anos e gostou do que viu. Outros nomes que contam com mercado na Europa incluem os atacantes Kenedy – na mira de Milan, Wolfsburg e Espanyol -, Marcos Guilherme e Gabriel, além do meia Nathan
Ao longo do torneio, a preocupação da comissão técnica foi blindar os jogadores das distrações extracampo. O técnico Alexandre Gallo, por exemplo, procurou concentrar os jogadores no hotel e passar a ideia de que é necessário focar no Sul-Americano até o fim. Mas reconheceu que os brasileiros ainda são muito visados. 
Gallo observa treino da seleção brasileira sub-20 em Montevidéu (Foto: Felipe Schmidt)Gallo observa treino da seleção brasileira sub-20 em Montevidéu (Foto: Felipe Schmidt)
– Eles são jogadores fisicamente privilegiados, por isso têm lastro de desenvolvimento, podem desenvolver a parte técnica com mais qualidade. Acredito que as pessoas acabam acompanhando por eles estarem na seleção, o que mostra que são tecnicamente acima da média, já jogam na primeira divisão como titulares. Isso é um atrativo para todos. 

Badalado desde novo, o atacante Gabriel viu o Barcelona adquirir a preferência em sua compra logo cedo. Ele acredita, porém, que isso não interfere no rendimento da equipe, já que muitos jogadores já são acompanhados por grandes clubes europeus desde o início da carreira na base. 

– A gente sabe da importância do Sul-Americano para o mundo, mas o nosso foco é totalmente no torneio, na seleção brasileira. Fora de campo a gente tem nossos empresários, nossas famílias, que cuidam disso. Não atrapalha. É coisa do futebol. Desde os 15 anos tem menino que o Barcelona, o Real Madrid queriam. Acaba sendo normal. Todos ficam felizes por serem falados em grandes times, mas nosso foco é a seleção. 
Para evitar as distrações, o regime da seleção foi rígido. Os familiares dos jogadores, por exemplo, não ficaram no mesmo hotel que a equipe. A primeira folga no hexagonal ocorreu na última quinta-feira, à noite, quando os atletas receberam permissão para passear num shopping próximo. Lá, puderam encontrar parentes, amigos e empresários. 
Jogadores da seleção sub-20 na mira de clubes europeus (Foto: Editoria de Arte)* Valor de acordo com avaliação do site “Transfermarkt”, que não disponibiliza a informação sobre Gerson. 
O Fluminense, entretanto, já disse que não vende o meia por menos de € 10 milhões (Foto: Editoria de Arte)
INDEFINIÇÃO ATRAPALHA NATHAN

Apesar dos cuidados, nem sempre dá certo. O meia Nathan viveu uma situação complicada durante a competição. Seu contrato com o Atlético-PR termina em abril, e o jogador reconheceu que a indefinição quanto a seu futuro o atrapalhou ao longo do Sul-Americano. 

– Para mim, foi difícil vir para a competição e não conseguir manter o foco. Eu tentava me concentrar ao máximo, buscava deixar tudo nas mãos do meu pai, que é meu empresário. Acho que eu deveria ter acertado alguma coisa antes da competição, porque cheguei aqui e não conseguia manter o foco, sempre vinha o pensamento de como vai ser depois. Agora eu comecei a esquecer um pouco , deixar nas mãos do meu pai. Acho que vai dar tudo certo.
Nathan, que fez um bom Mundial sub-17 em 2013, é seguido com interesse na Europa – o Manchester City é um dos clubes sempre citados como possível destino do jogador. Há também quem tenha surgido com força a partir do Sul-Americano: é o caso de Marcos Guilherme, artilheiro do Brasil com quatro gols e também jogador do Atlético-PR. Segundo informações do jornal “Gazeta do Povo”, o empresário do atacante, Rafael Stival, já foi sondado por Bayern de Munique e Shakhtar. Por enquanto, porém, o garoto, de 19 anos, não pensa em deixar o país.
– Eu procuro não pensar nisso nem ver essas situações. Tenho contrato com o Atlético e pretendo permanecer. Pretendo fazer um bom trabalho no Atlético para ser lembrado nas Olimpíadas e poder jogar. Vim com este pensamento de fazer um bom campeonato, porque sabia que era uma grande oportunidade na vida, minha primeira vez com a seleção – afirmou o atacante. 
LUCAS EVANGELISTA, O ÚNICO “ESTRANGEIRO”

De todos os 23 jogadores da seleção, apenas um já atua na Europa: o volante Lucas Evangelista, do Udinese, da Itália. Com mais experiência, ele já utilizou a braçadeira de capitão na ausência do zagueiro Marlon e contou que alguns companheiros vieram lhe perguntar sobre o futebol do Velho Continente. 

– Já conversei com alguns jogadores. Eles perguntam como é, eu explico que o futebol lá é diferente. São coisas que a gente aprende e tenta passar para o pessoal. Em relação aos olheiros, acho que é mais um incentivo para a gente mostrar nosso futebol e se doar ao máximo dentro de campo. É consequência: quando o time inteiro é campeão, os pontos individuais acabam aparecendo

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